A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou ontem a liberação comercial do feijão transgênico desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Esse é o primeiro organismo geneticamente modificado totalmente produzido por uma instituição nacional e o primeiro feijão transgênico do mundo.
"É um marco para a ciência brasileira", afirmou o coordenador do projeto, o pesquisador da Embrapa Francisco Aragão. "Uma prova, até para muitos pesquisadores que acreditavam o contrário, de que podemos desenvolver todas as etapas do projeto no País", completou.
A nova variedade é resistente ao mosaico dourado, uma doença identificada no Brasil na década de 50 que ganhou força nos anos 90 e atualmente representa um dos maiores problemas da cultura na América Latina. A expectativa é de que o produto esteja disponível para os consumidores dentro de dois anos.
A reunião que aprovou o feijão transgênico teve 15 votos favoráveis, 2 abstenções e 5 pedidos de complementos de informação (mais informações nesta página).
Ainda não está definido se a Embrapa cobrará royalties por essa nova variedade. Uma corrente dentro da empresa defende o pagamento por produtores de semente. Uma prática que mudaria a tradição de dispensar qualquer tipo de cobrança para melhorias ou frutos de pesquisas relacionadas ao feijão - uma cultura característica principalmente de pequenos e médios agricultores.
Doença. Transmitido por um vírus, o mosaico dourado é encontrado em plantações de várias partes do País, com exceção do Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina. A estimativa é de que as perdas anuais provocadas pela doença variem entre 80 mil e 280 mil toneladas - quantia suficiente para alimentar até 10 milhões de pessoas.
"O uso de uma semente resistente à doença pode evitar perdas, reduzir a importação do produto e garantir que o alimento continue na mesa do brasileiro", disse Aragão. Ele observa que, todas as vezes em que há uma alta de preço do feijão, o consumo do produto cai.
"O problema é que, quando o preço baixa, nem todos voltam a incluir o produto no cardápio. Algo que preocupa bastante em termos de política alimentar", afirma o pesquisador.
A variação transgênica aprovada pela CTNBio começou a ser estudada por Aragão em 2000. Os primeiros estudos para combater o problema, no entanto, tiveram início dez anos antes. Foram investidos no projeto R$ 3,5 milhões. Quase cem pessoas e dez instituições de pesquisa participaram do trabalho.
"Foi um grande feito intelectual, que trará um impacto importante para vários setores da sociedade", afirmou o presidente da CTNBio, Edilson Paiva. Também integrante da Embrapa, Paiva sempre declarou publicamente ser favorável à aprovação da semente geneticamente modificada.
"Ela vai facilitar tremendamente a vida de produtores, que, para se livrar do risco de contaminação da plantação, usam enormes quantidades de inseticida", disse o presidente da CTNBio. "A introdução dessa planta trará um impacto positivo econômico, social e alimentar."
Paiva disse que a nova espécie traz uma composição química exatamente igual ao feijão não transgênico. "Eles fizeram algo equivalente à vacina, potencializando o sistema de defesa da planta." Aragão garantiu não haver riscos de contaminação da espécie transgênica para a comum. "Uma separação de 10 metros é suficiente para evitar o risco."
fonte: Paraíba.com.br
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