O mais recente projeto de combate aos efeitos da seca na Paraíba é a
construção de um sistema com abastecimento de baixo custo para dez
comunidades rurais, assentamentos e quilombolas onde até então havia
pouco ou nenhum acesso à água, já beneficiando cerca de 200 famílias. As
novas iniciativas, conciliadas a projetos inovadores desenvolvidos por
pesquisadores do próprio estado, tentam diminuir a dependência da
população rural de açudes, poços artesianos e carros-pipa.
Segundo a gerência de execução de obras da Secretaria de Infraestrutura
estadual, o projeto em fase de conclusão já está em funcionamento em
todas as localidades e deverá ser ampliado para 44 municípios,
financiado pelo Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza do Estado da
Paraíba (Funcep-PB) com verba orçada em R$ 1,8 milhão.
Cerca de 20 famílias moram em cada comunidade já beneficiada, nas áreas rurais do Jacaré, em Alagoinha; Panelas, em Alcantil; Murici, em Piancó; Santa Mônica, em Pombal; assentamento Santo André, em Paulista; Amarelo, em São Miguel de Taipu; Passagem Rasa, em Sumé; São Gonçalo, em Santa Luzia; Pitombeira, no município de Várzea; e comunidade Pombos, em Tacima.
“Eu moro aqui há oito anos. A gente nunca teve água, só tinha que ir
buscar no poço usando baldes, indo de jumento ou boi de carga mesmo.
Essa semana os técnicos terminaram o trabalho aqui e virou uma
maravilha. A água chega bem direitinho na torneira. É uma coisa
fantástica”, contou ao G1 o agricultor Marcos Antônio Rodrigues, da associação São Miguel Arcanjo, na comunidade Passagem Rasa, zona rural de Sumé.
Os moradores do assentamento nunca viram água potável sair da torneira.
Nos últimos três meses, técnicos da Secretaria de Infraestrutura
estiveram implantando o projeto de abastecimento simples na região,
levando água encanada para todas as 16 famílias da comunidade.
“O sistema de abastecimento de água simples funciona com um poço
artesiano e um reservatório de água elevado ou apoiado, distribuído nas
casas através de uma ligação domiciliar que deixa a ligação na ponta da
casa. Perfuramos ou recuperamos um poço abandonado, é feita essa caixa
d'água, levado líquido em uma adutora e depois distribuído às casas.
Cada comunidade foi avaliada, são assentamentos carentes na zona rural e
quilombolas”, explicou o gerente de execução de obras, Francisco Tadeu.
As famílias da comunidade Uruçu, em São João do Cariri,
não tinham acesso à água potável. Sobreviviam do que era coletado por
meio de cisternas ou do abastecimento por carros-pipa. Um projeto
inovador aproveita os rejeitos de água retirada de poços, considerada
salobra e imprópria para o consumo, para realizar o cultivo de algas,
alface, tomate e criação de peixe.
Projeto de dessalinização auxilia cultivo em São João
do Cariri (Foto: Divulgação/UFCG)
do Cariri (Foto: Divulgação/UFCG)
A comunidade dispõe ainda de cinco mil litros de água subterrânea
dessalinizada por mês. Os produtos finais destas atividades na
comunidade Uruçu podem ser consumidos pelos moradores e ainda geram
renda com a comercialização. A iniciativa foi desenvolvida através de
pesquisa do laboratório de Engenharia Química da Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG).
Após ter acesso, pela primeira vez, à água potável com a instalação de
um dessalinizador, a comunidade se dedica à hidroponia – sistema de
cultivo dentro de estufas no qual o solo é substituído por uma solução
de água com nutrientes – numa produção que atinge mensalmente seis mil
pés de alface e cerca de 230 kg de tomate. As famílias têm ainda outra
alternativa de renda com a comercialização de tilápias, cuja produção
atual chega a cinco mil peixes, e de spirulina, uma microalga de uso
farmacêutico e em suplementos alimentares.
“Essa tecnologia de gestão ambiental, econômica e social pode chegar a
outras localidades. Só no semi-árido nordestino são mais de três mil
dessalinizadores instalados, cujo concentrado não é aproveitado, sendo
devolvido ao solo, prejudicando o meio ambiente. Temos mais de 1,5 mil
projetos de dessalinizadores no Nordeste e precisamos de incentivo para
instalarmos”, disse o pesquisador Kepler França, coordenador do
Laboratório de Referência em Dessalinização (Labdes) .
Além do sistema de abastecimento simples, as soluções mais recentes
para o combate à estiagem na Paraíba, de acordo com a Secretaria de
Infraestrutura do estado, foram a recuperação de 133 poços artesianos
desde outubro do ano passado, somados a outros 353 que ainda passarão
por reformas na Paraíba. Atualmente 170 municípios estão sendo atendidos
com abastecimento de carros-pipa por decreto de situação emergencial.
fonte: G1 Paraíba
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