Bríggida, Vilma, Josivânia e Patrícia. Mulheres jovens, a última com 32 anos. A primeira, professora universitária, dedicada aos estudos acadêmicos e confundida com uma de suas dezenas de alunas, quando era encontrada em um dos ambientes onde mais se sentia feliz, a sala de aula. As outras três, donas de casa, mães. Também papéis importantes. Elas integram uma estatística ainda preocupante na Paraíba e estão entre as 242 mulheres vítimas de assassinato, de junho de 2012 até a última sexta-feira, segundo dados coletados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Seds) e pela Organização Não Governamental (Ong) Centro da Mulher 8 de Março.
Hoje, completa dois anos que a professora Bríggida Rosely de Azevedo Lourenço, morta aos 27 anos, em casa, deixou saudade entre alunos e funcionários da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), onde lecionava no curso de Arquivologia, Campus de João Pessoa. A dedicação à vida acadêmica, com pesquisas e constantes concursos para conquistar uma vaga efetiva como docente, a fazia ser bastante procurada pelos alunos que queriam ser orientados por ela.
Foi por causa de um desses alunos, mais precisamente uma estudante jovem como a mestra que a orientava, que o professor Washington Medeiros, na época coordenador do curso, ligou para Bríggida naquela manhã chuvosa do dia 19 de junho de 2012 para avisá-la que a aluna gostaria de falar com ela a respeito do trabalho monográfico. “Conversei com ela por volta das 9h30. Quando liguei ela me atendeu normalmente, como sempre fazia, parecia estar tudo bem”, lembra o professor.
Ainda no mesmo dia, o professor Washington e outros colegas de trabalho dela foram surpreendidos com a morte da professora, cujo autor, segundo as investigações policiais, foi o ex-marido da vítima, Gilberto Lyra Stuckert Neto. “Foi uma grande perda para a universidade. Ela era realmente muito dedicada à vida acadêmica e estava em um momento profissional muito feliz. Tinha sido aprovada no concurso para professora substituta na UFPB e para professora efetiva na UEPB. Ela vivia a geração dos alunos que ela formava e eles se identificavam com ela”, recorda.
Três dias após a morte da professora, Vilma Soares dos Santos, 31 anos, foi assassinada a tiros no município de Prata, no Cariri, enquanto voltava para casa, em uma motocicleta levando o filho de 2 anos e uma amiga. A suspeita pelo crime também recai sobre o marido da dona de casa, Cleyton Eliel Braz Feitosa. No ano em que Bríggida e Vilma foram assassinadas, mais 137 mulheres acabaram vítimas do mesmo crime na Paraíba, conforme a Seds.
Segundo informações da Polícia Civil, relatadas na época do crime, testemunhas informaram que Vilma desconfiava que o marido teria um processo sobre violência doméstica. O histórico desse mesmo tipo de ato, penalizado desde agosto de 2006 pela Lei Maria da Penha, não impediu que no dia 3 de junho de 2013 Josivânia da Silva, 30 anos, fosse sufocada enquanto dormia e tivesse o corpo abandonado em um matagal, na praia de Jacarapé, na capital. Assim como a vítima do município de Prata, Josivânia era agredida pelo companheiro, Manoel Teixeira de Oliveira Filho, com quem vivia há 8 anos, segundo informações da Polícia Civil. Mais uma vez, a estatística preocupa e a dona de casa soma-se às 118 mulheres assassinadas em 2013.
Nesses dois últimos crimes, os suspeitos, apontados pelas investigações policiais e Ministério Público, estão foragidos.
Também vítima de homicídio, Patrícia Tomaz da Silva, de 32 anos, foi morta na noite de 17 de abril deste ano, em Pirpirituba, no Agreste. Sem defesa, ela teria sido arrastada pelo marido, José Ivan Feliciano da Silva, e morta a facadas. A morte da jovem senhora, que não queria mais o relacionamento amoroso, está entre os 50 assassinatos de mulheres, registrados de janeiro até a última sexta-feira (dados da Seds e do levantamento realizado pela reportagem).
Violência está ligada ao machismo, diz professor. Nos quatro casos citados na reportagem, as investigações policiais realizadas na época dos crimes indicam que os homens apontados como autores dos assassinatos não aceitavam o rompimento do relacionamento amoroso com as vítimas ou demonstravam ciúme excessivo.
Para o doutor em Ciências Sociais e professor de pós-graduação na área na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Vanderlan Silva, há um sentimento de “posse” sobre as companheiras nutridos por homens que cometem a violência doméstica.
“Há uma relação estreita entre o masculino e o feminino e tudo isso se revela através do machismo. São visões que têm consequências ao longo do tempo, quando por exemplo, um menino não participa de uma brincadeira com outros meninos e logo passa a ser taxado de “mulherzinha”. Um menino que não é educado para combater situações desse tipo, aparentemente simples, pode se tornar um jovem machista e ver a mulher sempre como alguém inferior. Só que é preciso haver uma mudança na própria percepção de que a mulher não precisa ter um dominante e isso passa por um processo cultural”, explicou o professor.
fonte: JP Online
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